sábado, julho 06, 2013

Fantasia - Capítulo 1

Fantasia
Nota:Minha primeira fic de Naruto tinha que ser com ele, claro... Universo alternativo, non-sense. Dedico esta fic para todas as apaixonadas por Hatake Kakashi. Naruto não me pertence, peguei emprestado de Kishimoto Masashi-sensei. *reverência*
Capítulo 1 - Otaku
A parede estava coberta de pôsteres e fotos de mangá. No meio de todos eles, um maciço de gravuras de um rapaz de cabelos prateados e rosto mascarado formava um verdadeiro mural de fotos com o jovem nas mais variadas poses. A estante, abarrotada de volumes de Naruto, Inuyasha, Evangelion e alguns outros, mal acomodava um pequeno jarro de flores com uma orquídea murcha.
A cortina serpenteava suavemente com a brisa que entrava pela janela semi-aberta. A claridade dissipava as últimas sombras noturnas, anunciando o dia que acabava de nascer. Um tilintar fez-se ouvir da porta do quarto e, segundos depois, algo pesado se atirou sobre suas costas e duas patinhas massagearam sua espinha dorsal antes de rodarem, se acomodando em um pacotinho de pêlos.
– Shippo, seu gato gordo, é assim que você vem me acordar? – ralhou uma voz sonolenta abafada pelo travesseiro – Sai daí, vai... – ela se mexeu um pouco, mas o gato cravou suas garrinhas no cobertor. Sacudiu os braços na tentativa de tocá-lo dali, mas ele estava fora de seu alcance – Já que você não sai por bem, aí vai meu último recurso – ergueu-se bruscamente e o bichano soltou um chiado e saiu correndo pela porta, o tilintar do guizo em seu pescoço ecoando da cozinha.
Sentou-se esfregando os olhos e checou a hora. Não conseguiu conter um bocejo, espreguiçou-se e, só para confirmar, olhou o relógio mais uma vez.
– O QUÊ?!
Levantou-se estabanada arrancando o pijama e entrando no banheiro. Cinco minutos depois, debatia-se entre as milhares peças de roupa espalhadas pelo chão, pela escrivaninha, pela cadeira e até sobre o ventilador de teto. Calçou as meias de qualquer jeito, pegou o All Star debaixo da cama, arrancou a camiseta jeans pendurada na porta do guarda-roupa, pulou a almofada largada no corredor, passou derrapando pela porta da cozinha e voltou, xingando o mundo todo porque era justamente na cozinha que tinha que entrar.
Shippo, o gato amarelo, olhou com ar de menosprezo para a dona e voltou a comer tranqüilamente sua ração.
Ela abriu a geladeira, pegou leite e frutas, apanhou uma caneca no armário e, enquanto derramava o leite dentro (e fora) dela, mordia uma maçã e dava uma breve olhada no jornal sobre a mesa. Suspirou um "nenhuma novidade" e voltou a atenção para seu desjejum.
– Merda! – olhou para a lambança que fizera com o leite, sentou-se na mesa, e enquanto engolia o "café da manhã" de qualquer jeito, ensopava dezenas de guardanapos tentando limpar a sujeira.
Encheu o pratinho de ração do seu bichano, apanhou-o no colo, depositou um beijinho em sua cabeça e o abraçou com carinho.
– Mamãe só volta para o jantar, tá coisa fofa? Vê se não faz xixi no carpete...
Encontrou a chave do carro em cima da TV, e sua mochila jogada num cantinho da sala. O Trânsito de Tóquio não ajudava naquela hora da manhã. Pensou, angustiada, que talvez teria sido mais vantagem se tivesse ido de metrô, mas agora já estava quase na metade do caminho, e logo sairia da via principal para pegar uma estrada menos movimentada que a levaria para o seu trabalho.
Ligou o som do carro, pôs um CD de rock e aguardou - segurando a vontade de berrar com todos os motoristas lerdos que estavam na sua frente - até que finalmente chegou ao desvio que dava acesso à via secundária. A paisagem aos poucos foi se modificando em casas mais espaçadas e vegetação mais densa. Dez minutos mais tarde, seu carro parou no florido estacionamento do Instituto de Pesquisa Fitoterápica, o IPF.
O saguão de entrada do enorme complexo do IPF estava lotado, como sempre. Entrou voando pela porta, desviando de várias pessoas, esbarrando em algumas outras e deu uma guinada de 90 graus ao divisar uma certa mulher de longos cabelos negros que conversava distraidamente com o chefe do Departamento de Relações Exteriores.
– Atrasada de novo, Keiko? – uma voz cortante soou atrás de si.
Estacou e virou-se para a mulher. O homem com quem ela conversava sorriu com desdém e olhou Keiko de cima a baixo. Ela suspirou profundamente, tentando controlar a raiva que esquentava as maçãs do seu rosto.
– É... um pouco, Natsume – respondeu modelando um sorriso forçado – Não sei se é assim no seu departamento, mas lá no setor de desenvolvimento de pesquisas a gente trabalha em casa também. Por vezes viro as noites acordada lendo artigos e analisando fórmulas. O administrativo não tem dessas... ou tem?
Virou-se novamente e continuou seu trajeto. Não olhou para trás a fim de ver a expressão dela, mas sentiu-se extremamente feliz com o silêncio constrangido da mulher. Subiu as escadas para o terceiro andar e empurrou a porta do seu escritório.
– Bom dia, Tsuki! Alguma novidade?
– Bom dia, Keiko-san! – disse a simpática secretária – O setor financeiro aprovou seu pedido de verbas. Elas serão liberadas amanhã.
– Ótimo – acenou para a jovem e abriu uma das 3 portas de vidro no fundo da sala, entrando em seu pequeno escritório.
Tudo era decorado em tons de verde água e branco, mas era impossível ver o mármore claro de sua mesa porque os papéis e anotações cobriam a maior parte da superfície do móvel. Seu computador estava entupido de gravuras de diversas personagens de mangá, coladas por toda a extensão do monitor, mas o jovem de cabelos prateados, o mesmo que ganhara posição de destaque no mural do seu quarto, figurava na maior parte delas.
O porta-retratos que se equilibrava sobre uma agenda, não mostrava o rosto de uma pessoa comum, mas outra das fotos da sua personagem favorita, o mascarado cujo sorriso se fazia perceber por sob a máscara. Era exatamente para esta foto que ela olhava quando alguém bateu na porta e entrou.
– Você precisa "humanizar" este seu escritório, Keiko – disse uma mulher mais ou menos da sua idade, mas com os cabelos mais curtos e negros – Para todo lugar que se olhe, só se vê mangá, mangá, mangá e anime... – ela sentou na beirada da mesa e remexeu em alguns papéis tentando organizá-los, mas desistiu ao ver que era inútil.
Keiko desviou os olhos da fotografia e encarou a amiga com seu pior olhar de censura.
A mulher levantou-se e apoiou as mãos na montanha de papéis. – Eu sou sua amiga, Kei-chan. Se eu não chamar a sua atenção para a realidade, quem vai fazê-lo?
– Tudo bem, Aki... – ela respondeu com um semblante cansado e triste – Às vezes eu quero seguir os teus conselhos, mas simplesmente não dá. É mais forte do que eu. Já tentei me livrar de todas aquelas fotos, mas no final acabo repondo tudo no lugar.
– É... um dia eu ainda vou ter sucesso com as minhas investidas – Aki olhou o relógio e se recompôs – Bem, senhorita otaku, é hora de vestir o seu jaleco e assumir seu papel de botânica chefe, porque o laboratório nos espera.
-x-x-x-x-
Acendeu a luz da sala e Shippo veio correndo do quarto, com a cara amassada e miando sonolento.
– Coisinha fofa! – pegou o gato nos braços e ele fechou os olhinhos, balançando o rabo, feliz com a presença da dona – Sentiu falta da mamãe?
Chutou a porta entreaberta do quarto e sentou-se na cama, deitando Shippo sobre os lençóis ainda desarrumados da noite anterior. Tirou a mochila das costas e jogou-a de qualquer jeito ao pé da estante. Despiu-se das roupas, ficando apenas de lingerie, foi até o banheiro e ligou a torneira quente para encher a banheira. Pegou o roupão que estava pendurado na porta, vestiu e entrou na cozinha, pensando em preparar alguma coisa para comer. Mas ao abrir o armário e olhar o que tinha, optou não enfrentar o fogão.
Enquanto checava a temperatura da água de banho, ligou para uma pizzaria e pediu uma pequena de camarão - sua favorita. Fechou a torneira, saiu do banheiro e se jogou na cama, enquanto esperava o boy trazer sua encomenda. Olhou a enorme bagunça espalhada pelo seu quarto e praguejou.
– Shippo – disse depois de um longo suspiro - acho que é hora da mamãe arrumar as coisas por aqui...
O gato continuou a segui-la com os olhos indiferentes ao passo que ela catava a montanha de roupas espalhadas pelo chão e as colocava numa mala. Pretendia enviá-las para a lavanderia o mais rápido possível, já que estava quase sem roupas limpas.
A aparência do quarto estava bem mais agradável quando o entregador tocou a campainha. Apanhou a chave e abriu a porta. O rapaz sardento olhou-a dos pés à cabeça e sorriu malicioso.
– Sua pizza, florzinha...
– A única florzinha que eu estou vendo aqui é você, seu projeto de indecência – devolveu irritada, entregou o dinheiro ao garoto e fechou a porta com impaciência.
"Só me faltava essa..."
Levou a pizza para a cozinha, cortou um pedaço e abocanhou a ponta repleta de camarões.
– Hummm... delícia.
Tirou um pratinho amarelo do armário, cortou vários pedacinhos de pizza, recolocou sua fatia mordida na caixa e voltou para o banheiro. Despiu o resto das roupas, pousou o pratinho no chão ao seu lado e entrou na banheira, deliciando-se com a água morna. Não precisou chamar Shippo - seu faro aguçado para porcarias o levou direto para o pratinho amarelo - e enquanto ele mastigava esfomeado, ela curtia o banho, ensaboando suas pernas e braços.
Vinte minutos depois, livre da sujeira e mais relaxada, pegou a pizza, sentou-se no confortável sofá e ligou a TV. Desistiu de procurar um canal que prestasse e tateou sob as almofadas em busca do controle do som. Achou-o finalmente caído atrás do sofá e escolheu um CD de músicas românticas que tinha ganhado de Aki no seu último aniversário.
Na capa do disco havia uma dedicatória com a letra miúda e redondinha da amiga, que dizia: "Vê se ouve esse CD ao lado de algum gato, viu? Desencalha!". Shippo miou e subiu no sofá, buscando se aninhar nas pernas da dona.
– Ora, ora... Finalmente vou ouvir o CD da Aki-chan ao lado de um verdadeiro gato... – sorriu e acariciou o pêlo macio que cobria as várias camadas de gordura do seu companheiro felino.
A música entrou pelos seus ouvidos e imediatamente ela sentiu aquela conhecida sensação de saudade sem motivo. Shippo escorregou - ferrado no sono - para o assento do sofá, e ela levantou-se. Entrou no quarto e olhou o pôster fixado na porta. Era um daqueles "em tamanho real" com um imenso rapaz mascarado olhando-a sensualmente sob o protetor que usava para esconder o olho esquerdo.
Ameaçou arrancar o pôster - todos os conselhos de Aki aflorando-lhe na mente - mas suas mãos hesitaram a meio caminho. "A minha vida tem sido coração partido e dor..." dizia uma frase da música que ela conhecia ao pé da letra. Suspirou e alisou o papel frio sobre a superfície dura da porta.
"Se você existisse... não seria nem frio nem duro o teu abraço... O que eu faço pra me livrar dessa fantasia que é amar você?"
A foto continuava do mesmo jeito de sempre, com a mesma feição, a mesma postura, e ela sentiu-se constrangida ao constatar que gostaria muito de pelo menos uma vez, conversar com a gravura e obter uma resposta – o que lhe soava como estar à beira da insanidade. Olhou em volta, observando todas as fotos espalhadas pelo quanto, e sentiu o coração apertado com uma vontade de chorar. Apanhou o porta-retrato sobre a mesinha de cabeceira e olhou a imagem fixa sob o vidro.
– Imagens... apenas imagens. – sussurrou – O que eu estou fazendo comigo mesma? Você – disse encarando a foto – sabe que essa minha solidão é culpa sua? Essa loucura por você está me matando...
A campainha soou pela segunda vez naquela noite e ela caminhou até a sala, intrigada. Não costumava receber visitas inesperadas. Para falar a  verdade, não estava acostumada a receber nenhuma visita, a não ser da sua única amiga, Aki. Colocou o porta-retratos sobre a TV e pegou as chaves. Abriu um pouco a porta e não deu outra - era Aki. Destrancou a correntinha de segurança e encarou a amiga.
– O que você está fazendo aqui a essa hora, Aki-chan? – disse enquanto a convidava para entrar.
– Bem – respondeu a jovem com um sorriso excitado – consegui dois ingressos para a boate mais badalada de Tóquio, e resolvi passar aqui para tentar salvar sua juventude.
– Ah... Aki-chan eu...
– Não, Keiko – cortou a amiga. – Eu não vou aceitar um não como resposta. Você tem 23 anos e vive trancada em casa e no trabalho! Pelo amor de Kami Sama! Você precisa viver e sabe disso. Esse seu amor platônico e irreal só vai estragar sua vida! – Então ela sorriu docemente e pegou a mão de Keiko entre as suas – Venha, eu te ajudo a escolher uma roupa bem legal.
Keiko suspirou resignada e aceitou o convite de Aki. Ao entrar no quarto sentiu-se imensamente grata por ter arrumado tudo mais cedo. Seria constrangedor se a amiga visse seu quarto no estado em que se encontrava. A jovem de cabelos curtos abriu as portas do guarda-roupa e vasculhou algumas peças. Finalmente, depois de algum tempo, virou-se para Keiko e perguntou:
– Você ainda tem aquele seu vestidinho preto, Kei-chan?
-x-x-x-x-
– Keiko, há quanto tempo você não retoca a tinta do seu cabelo? – Aki perguntou, reparando nos quase cinco centímetros de raízes negras, que contrastavam com o ruivo do restante dos fios.
– Ah, sei lá... Eu não tenho pensado muito nisso ultimamente – respondeu a jovem enquanto vasculhava a gaveta do criado mudo à procura de um batom.
– Ok, isso não vem ao caso agora. Me passa a escova e o gel?
Keiko atendeu ao pedido da amiga e finalmente encontrou o que procurava. Aguardou pacientemente Aki terminar o serviço com seus cabelos, e foi até o espelho na parede. Olhou-se com censura - virando-se um pouco para analisar o resultado da produção - e entortou os lábios. Seus cabelos estavam soltos, caídos sobre os ombros, e Aki – milagrosamente - tinha modelado uma franja ondulada sobre seu olho esquerdo. Sempre achou aquilo sexy quando via as divas dos filmes usavam o penteado, mas não estava gostando nem um pouco de ver em si mesma.
– Deus, estou me sentindo ridícula...
– Mas não está – emendou a amiga, parando atrás dela e mirando o reflexo de ambas – Você só está desacostumada, mas logo nós vamos estar nos divertindo muito e você nem vai se importar – falou animada sentando-se na cama – A propósito, vamos no seu carro porque eu emprestei o meu à minha irmã.
Keiko terminou de passar o batom vermelho, deu uma checada no rímel e, por mais que Aki afirmasse veementemente que estava "irresistível", continuava a achar que estava parecendo uma palhaça.
Pegou as chaves do carro sobre o console, abriu a porta e saiu para o hall do apartamento. Antes de seguir a amiga, Aki apanhou o porta-retrato sobre a TV e olhou a imagem.
– Você não vai roubar a minha amiga... Chega de você na vida dela – falou baixinho, deitando a foto de cabeça para baixo. Logo depois, saiu e trancou a porta.
Keiko apertou o botão do elevador, e em pouco tempo as duas estavam na garagem do prédio. Caminharam até o carro e enquanto Aki colocava o cinto, sua amiga ligou faróis da Mitsubishi, engatou a ré. Já tinham atravessado metade do pátio quando Keiko freou bruscamente, fazendo a jovem de cabelos curtos exclamar em espanto.
– O que foi? – perguntou assustada, olhando para a amiga.
– Aki, meu Outlander é novinho. Eu não vou deixá-lo estacionado numa rua desconhecida qualquer!
– Meu deus, sua vida social realmente não existe, não é? O lugar para onde estamos indo tem estacionamento. Relaxa, bobinha – Aki sorriu. - Agora pisa no acelerador, porque a noite nos aguarda!
-x-x-x-x-

N/A (2005):Bem, a música que a Keiko tava ouvindo é Wanna Know What Love Is de Wynonna Judds. Eu não coloquei a letra completa pra não tornar este capítulo uma song fic. ' A propósito, não, a Keiko não é meu alterego, embora tenhamos muita coisa em comum, e sim, Shippo definitivamente é o alterego do meu gato, que tem o mesmo nome, embora não seja tão gordo hehehe.

N/A (2012):Comecei aescrever esta fanfic – acreditem – em 2005. Vivi uma verdadeira jornada bem conturbada, onde, por várias vezes tive que parar de escrever para cuidar de assuntos pessoais. Hoje, 7 anos depois, vejo que ainda vivo uma constante mudança. Mas, ao que parece, as coisas estão se acalmando. Tenho a fic pronta na cabeça – com final e tudo – só falta escrever.

Decidi rever o conteúdo da fic por 2 mitivos: o primeiro, para corrigir erros de ortografia e pontuação; o segundo, para deixar a história como eu sempre quis desde o início. Quando comecei a publicar Fantasia, eu tinha muita pressa para pôr os capítulos no ar. Foi assim com os capítulos de 1 a 4. O resultado: uma história que fugiu do roteiro que me parece ideal. Por conta disso, estou republicando os capítulos. Espero que gostem desta nova versão!

0 comentários:

Postar um comentário