quinta-feira, julho 11, 2013

Fantasia - Capítulo 4

Capítulo 4 – Interrogatório
Keiko acordou atordoada. Estava deitada em sua cama e sentia que seus braços e pernas estavam amarrados ao móvel. Mal tinha aberto os olhos e a figura de Kakashi já estava diante deles, fazendo com que ela se lembrasse de tudo o que havia acontecido minutos antes. Tentou pensar em algo para dizer; mas não conseguiu.
- Finalmente, você acordou. – Ele disse, parado em pé ao lado da cama. – Ao que parece, você me conhece. Vi fotos minhas espalhadas pela sua casa. Você andou me observando?
O instinto fez com que Keiko negasse.
- Eu não acho que você está sendo sincera... – Ele sibilou. – Entretanto, esta não é a questão principal. O que importa agora é: por que você me trouxe aqui? – Seu tom era suave, mas claramente letal.
A princípio, Keiko franziu as sobrancelhas, pega de surpresa pela pergunta. Será que deveria contar a ele a verdade sobre a Miko? Mas isso seria assumir uma culpa que, teoricamente, não era dela, afinal, a Miko tinha feito todo o trabalho sozinha, e Keiko nem sequer sabia que ela tinha planejado invocar Kakashi do mundo imaginário, para o mundo real.
Mas como explicar isto a ele que, visivelmente, estava encarando Keiko como a única pessoa responsável por tudo? Muito provavelmente, ele estava tão atordoado quanto ela – ou pior – e qualquer explicação poderia ter um efeito desastroso.
Os neurônios de Keiko estavam travando uma batalha interna, divididos entre contar a verdade – e correr o risco de ser vista por Kakashi como sua inimiga mortal – e mentir – e correr o risco de que ele descobrisse que estava mentindo e lhe tomasse como inimiga mesmo assim. A opção que lhe pareceu “menos pior” – se isso fosse possível – era contar-lhe a verdade, ocultando alguns fatos.
Tomando cuidado com as palavras, ela disse:
– Não fui eu que te trouxe...
Sua respiração acelerou-se brevemente e ela sentiu o rubor subir-lhe às faces. Isso não era uma coisa boa. Não queria que Kakashi interpretasse o seu nervosismo como dissimulação.
– Então quem foi? - Ele devolveu. Seu único olho visível estreitou-se levemente.
Os olhos castanhos da jovem passearam pelo rosto do homem mascarado à sua frente, tentando decifrar o que ele estava pensando. Mas a máscara que ele usava e a bandana de Konoha tornavam quase impossível perceber sua expressão.
Tomando um pouco de fôlego, rezou para que ele acreditasse na expressão inocente que tentou estampar em seu rosto e disse: – Alguém que não eu.
Kakashi agora estava visivelmente contrariado.
- Você precisa melhorar suas respostas, - sibilou, encostando uma kunai no pescoço de Keiko - ou não lhe restará muito tempo de vida. – Sua ameaça era cortante.
Ele notou sinais de nervosismo na jovem ruiva: a voz trêmula, as pequenas gotículas de suor aflorando próximas às raízes negras dos cabelos, e as duas esferas amendoadas que lhe fitavam. Precisava apenas descobrir se ela estava nervosa porque lhe escondia algo, ou se era por estar sob ameaça de morte e nada mais.
Keiko estava começando a entrar em pânico. Esperava que ele engolisse suas meias verdades, mas sentiu-se extremamente tola depois que as disse. Kakashi era esperto demais para ser ludibriado por qualquer pessoa; e ela não era nenhuma mestra na arte da mentira. Aguardou, na expectativa de que outras perguntas viessem, e até já se preparava para respondê-las; mas ele não correspondeu às suas conjecturas.
De repente, num movimento rápido, o jounin debruçou-se sobre ela. Um de seus joelhos pressionou a coxa de Keiko e a mão que segurava a kunai fez mais pressão em seu pescoço. Ele inclinou o rosto, de modo que ficasse a apenas alguns centímetros do seu, e disse:
– Vamos abreviar as coisas. – Sua voz era um sussurro ameaçador de encontro ao ouvido dela. - Não precisa me dizer quem me trouxe, mas por quê. Se sua resposta me convencer, ótimo; mas se eu achar que não foi suficiente, termino o interrogatório agora mesmo.
-x-x-x-x-
“Pense direito...” - Disse a si mesma, forçando-se a manter a calma; mas estava realmente difícil controlar-se naquele momento, ante a ameaça que ele lhe fazia com a kunai e a proximidade quase nula entre seus corpos.
– Kakashi... – A súplica escapou sem querer dos seus lábios, e ela sentiu que o arrepio que percorreu o seu corpo misturava medo e algo mais. Havia um cheiro delicioso que envolvia o shinobi, um aroma que misturava menta e bergamota, e ela estremeceu ao pensar: “Então este é o perfume dele...”
– Revele qual é o propósito de me trazerem aqui. – Ele disse, indiferente a ela, fazendo um pouco mais de pressão em seu pescoço.
Keiko pensou que só podia estar louca: reparando no perfume dele numa situação daquelas? Mas sua mente era traiçoeira e ela sabia muito bem disso. Antes que se perdesse novamente em devaneios, e acabasse sendo assassinada pelo grande amor da sua vida, ela balbuciou com a voz trêmula:
– Olha, eu não trabalho pra ninguém que tenha te trazido aqui, nem sei se há algum propósito nisso tudo... – E suspirou, sentindo que, pela primeira vez naquele dia, estava realmente dizendo uma verdade.
Kakashi não achou que aquelas palavras fizessem sentido, mas notou que havia sinceridade na voz dela. Estava irritado por não saber dizer se a mulher ruiva era culpada, ou se só estava no lugar errado, na hora errada; mas havia um teste a ser feito. A resposta dar-lhe-ia uma pista da verdadeira posição daquela mulher na história: inimiga ou inocente.
Cortou o tecido que prendia a mão esquerda da ruiva e aguardou. Se ela tentasse agredi-lo, saberia que ela tinha grandes chances de ser uma inimiga. Porém, a jovem apenas pousou a mão sobre aquela que ele mantinha segurando a kunai, e seus olhos suplicaram, silenciosamente, que ele a tirasse dali.
Ela estava verdadeiramente assustada.
Suas suspeitas abalaram-se consideravelmente. A mulher tinha agido como uma inocente. A adrenalina em seu sangue começou a diminuir. Ficaram na mesma posição por algum tempo e então ele reparou que a mão da ruiva, que ainda tocava a sua, tinha um toque morno, como uma das manhãs da Primavera de Konoha. Reparou também que, vistos de perto, os cabelos dela pareceriam uma cascata de fios cintilantes e negros que, gradualmente, se diluíam num vermelho escuro, quase sanguíneo. Podia sentir o perfume que emanava deles, mas não sabia distinguir que aroma era aquele. Isto o intrigou. Se havia algo de que se orgulhava, era do seu olfato.
A mulher mexeu-se desconfortavelmente contra o seu corpo, provavelmente sentindo dores por conta das pressões que ele ainda fazia. Kakashi ficou sem jeito: desde quando tinha começado a reparar nesses detalhes íntimos em possíveis inimigos? Com cuidado, ele levantou-se. Cortou todas as amarras que prendiam a ruiva e afastou-se até um canto do aposento.
Estava frustrado. O que tinha acontecido para, de repente e sem motivo, ter sido tragado para um lugar completamente estranho? Suas tentativas de arrancar algo da mulher foram mal sucedidas e, no fundo, tinha a sensação de que estava deixando passar algo... Ela tinha fotos suas em quadros e murais, e tinha dito o seu nome, não tinha?
Keiko suspirou aliviada, sentando-se na cama.
– De onde você me conhece? – Ouviu Kakashi perguntar e observou que sua postura ainda estava tensa.
Ela quedou-se muda por alguns momentos, parecendo preocupada; mas, de repente, abriu um sorriso largo e sua expressão tornou-se suave. Seus olhos cintilaram com a claridade que entrava pela janela.
– Kakashi, pelo amor de Deus! – Ela exclamou, alargando ainda mais o sorriso. – Livros. – Disse. - Você é um ninja muito conhecido, já deveria estar acostumado com a fama.
Ele sentiu-se desarmado e até um pouco vaidoso. Não podia imaginar que sua fama o precedia, também, em locais tão desconhecidos.
– Olha... - A ruiva falou, tirando-o de seus pensamentos. - Eu não sei te dizer como você chegou aqui, mas sei de onde você veio e posso te dizer onde está agora. Se você confiar em mim, eu posso te mostrar.
-x-x-x-x-
Estava sentado na cama da ruiva, enquanto ela lhe trazia uma pilha de livros com um nome muito familiar estampado nas capas: "NARUTO". A estante do quarto estava abarrotada de vários volumes do mesmo livro.
Kakashi folheou as páginas, parecendo absorto em pensamentos. O que estava acontecendo era muito estranho. Ele já tinha vivido situações perigosas, já tinha visto inúmeros jutsus, incluindo genjutsus; mas aquilo não podia ser uma ilusão. Ele tinha certeza que estava num mundo bem real.
– É por causa destes livros que te conheço. – Disse a mulher. – Todo o seu mundo está descrito aí. O lugar onde você está agora é um mundo diferente e eu realmente não sei te dizercomo você veio parar aqui.
- Hm... – Ele murmurou. – Mas por que outras pessoas do meu mundo também não estão aqui? Por que só eu?
Keiko temeu não saber responder àquela pergunta.
- Coincidência, talvez. – Ela disse, tentando parecer descontraída e convincente.
- É... talvez.
Kakashi estava desconfiado de que não existia um talvez e muito menos uma “coincidência”. Mas decidiu, por ora, não abrir o jogo com a mulher ruiva. Continuou apenas a folhear as páginas dos livros.
Os volumes de "Naruto" continham desenhos das pessoas com quem ele convivia, cenas de sua vida em Konoha, fragmentos de algumas conversas antigas e de outras bem recentes. Era assustador ver que alguém tinha tido acesso a informações sigilosas de missões e pior, que alguém as tivesse publicado em um livro. Que tipo de mundo era esse para o qual ele fora tragado?
A ruiva, até aquele momento, estava lhe inspirando um pouco de confiança. Ele precisaria manter-se próximo a ela para descobrir mais informações que pudessem dar-lhe alguma explicação para tudo o que estava acontecendo. De posse dessas informações, ele poderia encontrar um meio de voltar pra casa.
Keiko pegou-se admirando o shinobi enquanto ele dedicava sua atenção aos mangás. Um arrepio percorreu seu corpo quando pensou:
 “Kakashi em carne e osso...”
Reparou no detalhe das mãos enluvadas, nas pontas dos dedos descobertas, nas unhas retangulares, bem aparadas, mas um pouco sujas de terra. Ele devia estar treinando quando foi trazido a este mundo. Observou o pedaço descoberto de seu rosto e sentiu-se tola ao reparar nos poros da pele, cobertos por pelos finos, quase imperceptíveis. Sentiu-se tola e feliz. Aqueles detalhes reais que ela tinha imaginado tantas vezes agora estavam ali, bem diante dos seus olhos, e eles tinham uma importância muito grande para ela. Quantas vezes não tinha desejado que o pôster atrás da porta tivesse aquela textura? Que tivesse aquela cor tão vívida?
– Onde estou agora? – Ele perguntou, desviando a atenção dos mangás e tirando Keiko dos seus devaneios.
– Em Tóquio, no Japão. Acho que o planeta é o mesmo... – Ela não tinha parado para pensar nisso; ainda. – Vocês vivem na Terra, não é?
Ele sorriu pela primeira vez desde que tinha chegado. O alarme que havia soado na sua mente, mais cedo, continuava a alertá-lo de que a ruiva escondia algo dele, mas não podia negar que, no mínimo, suas intenções não eram ruins; então decidiu dar tempo ao tempo. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela lhe daria as informações que desejava. Era só ser paciente.
A pergunta ficou no ar e Keiko presumiu que o sorriso dele significava um "sim".
O clima pesado do primeiro encontro havia tornado-se mais leve. Em pouco tempo, eles estavam conversando sobre a cidade, os costumes e as coisas do dia a dia do mundo de Keiko.
Algum tempo depois, ela sentiu seu estômago doer. Não tinha comido nada desde a pizza da noite anterior e achou melhor preparar um café, antes que ficasse muito fraca e acabasse desmaiando novamente.
Sentado à mesa da cozinha, a convite da mulher ruiva, Kakashi observava enquanto ela preparava o café da manhã. Tinha notado que, em geral, o apartamento não era muito diferente do seu, exceto pelo fato de que o de Keiko parecia ser maior.
Keiko, finalmente, sentou-se na cadeira em frente à dele e ofereceu-lhe uma xícara de café; mas ele apenas apontou para a máscara e disse com um leve sorriso:
– Não, obrigado.
– Ah, sem problemas. – Ela corou um pouco. Será que ele havia pensado que ela tinha feito aquilo para ver o seu rosto? – Eu vou comer alguma coisa e depois, quando eu for tomar banho, você se serve.
Ele encarou-a com uma expressão indecifrável e ela concluiu que ele, de fato, tinha pensado que ela queria vê-lo sem máscara.
– Não vou espiar! – Disse de repente. - Além do mais, você vai ouvir se a porta do banheiro abrir.
Ele continuou parado, observando-a, e ela rolou os olhos, sentindo-se completamente estúpida. A preocupação dele naquele momento, obviamente, não era com a máscara; era com a sua segurança e a sua vida. Keiko sentiu-se tola por não ter pensado nisso antes.
– Eu não envenenei o café, sabe? – Ela disse. - Vou tomar da mesma garrafa que você... E se quiser, eu mordo metade de todos os biscoitos também.
Kakashi não conteve o riso. Era até engraçado ver a ruiva atrapalhar-se, tentando lidar com aquela situação. Ele não era o único confuso e perdido na história, afinal. Keiko também sorriu e sentiu um calor gostoso no coração. Tinha Kakashi em seu apartamento e parecia que eles estavam começando a se entender.
-x-x-x-x-
O barulho do chuveiro cessou, algum tempo depois, e ele recolocou a máscara. A refeição não foi muito diferente da que costumava fazer em Konoha, exceto pelo fato de que o café da ruiva, certamente, era mais saboroso do que o seu.
Mal terminou de ajeitar o tecido sobre o rosto, ouviu um click abafado na porta da frente do apartamento e, logo em seguida, uma voz feminina chamou:
– Keiko? Não se assuste amiga, sou eu, Aki-chan! Lembra que combinamos de eu vir aqui hoje te devolver as chaves, né?
Barulhos apressados vieram de dentro do banheiro e a porta abriu-se com urgência. Keiko havia esquecido completamente de Aki. Os acontecimentos emocionantes daquela manhã tinham varrido a amiga da sua cabeça e ela sentiu-se uma traidora. Agora, amarrava às pressas o roupão de banho para interceptar Aki na sala. Tinha vários motivos para isso: primeiro, queria contar a ela a novidade inacreditável que era ter Kakashi em sua companhia; segundo, não queria que Aki se assustasse ao ver Kakashi no apartamento; e por fim, e mais importante, precisava alertar Aki para não dizer nada a ele sobre a Miko e o templo.
Kakashi permaneceu sentado na mesa, mas apurou os ouvidos, curioso com a situação.
– Aki! – A voz da ruiva soou da sala com um tom que mesclava euforia e alívio.
– Nossa, é tão bom assim me ver? – Disse a outra mulher. – Epa! Você está com aquela cara de quem tem um “babado” fortíssimo pra contar!
Aki era realmente perspicaz.
Um silêncio momentâneo pairou na casa e Kakashi apurou os ouvidos.
– Sim, eu tenho! Mas não sei por onde começar! – Keiko apertava nervosamente uma mão contra a outra.
Kakashi ouviu passos inquietos sobre o carpete, provavelmente da ruiva.
“Ela está ansiosa...” – Pensou.
– Ele está aqui, Aki! Apareceu do nada! Acordei de manhã e ele já estava aqui! Não quero que você se assuste com a presença dele, eu entenderia se isso acontecesse. Hoje de manhã foi uma loucura, eu pensei que morreria! Mas as coisas estão mais calmas agora. – Keiko disse, despejando as palavras de qualquer jeito.
Aki estava com uma cara horrorizada. Não via a amiga tão ansiosa assim há muito tempo e aquilo, definitivamente, não era normal.
– Calma... Calma! Contenha-se, mulher! Pelo amor de Kami Sama! – Disse, exasperada por não ter entendido nada do que Keiko dissera. – Vamos organizar essas informações, ok? Senão minha cabeça vai explodir! Comece dizendo quem está aqui.
Essa era uma pergunta crucial. Keiko não costumava trazer pessoas ao seu apartamento com frequência, muito menos pessoas do sexo masculino, e Aki temia pela segurança dela naquele momento.
A ruiva ficou muda por algum tempo. Parecia estar escolhendo as palavras certas.
- Não adianta explicar. – Ela disse por fim. – Você vai ter que ver com seus próprios olhos; mas antes, prometa-me uma coisa: não diga nada antes de conversarmos direito, ok?
Keiko disse a última frase com bastante ênfase. Não podia falar em voz alta sobre a Miko, pois sabia que os ouvidos bem treinados de Kakashi captariam tudo. Precisava esperar até que ela e Aki ficassem a sós, para explicá-la o motivo pelo qual não queria contar nada a ele. Rezou em silêncio para que ela entendesse o recado.
Aki notou uma expressão estranha no olhar da amiga, ela parecia estar tentando dizer-lhe algo. Será que alguma coisa errada estava acontecendo?
- Ok... – Respondeu ainda confusa.
- Me espere aqui. – Keiko disse e desapareceu no corredor. Pouco tempo depois, voltou acompanhada de um homem. Não um homem comum; mas um homem que tinha cabelos prateados, mesmo sendo jovem, que trajava roupas esquisitas e cobria o rosto com uma máscara.
Aki não estava acreditando no que via. Ela não era uma otaku, mas conhecia muito bem o personagem de anime favorito da sua melhor amiga. Vira-o tantas vezes nas fotos espalhadas pelo apartamento de Keiko que sabia descrever, de olhos fechados, a aparência dele.
Kakashi reparou que a mulher de cabelos negros, lisos e curtos, olhava-o com a boca aberta, aparentemente chocada demais para dizer qualquer coisa. Ainda com os olhos fixos em Kakashi, ela se aproximou e deu uma volta completa em torno do jounin, examinando-o de cima a baixo.
– Mas é perfeito demais! – Exclamou baixinho.
– Como é? – Keiko perguntou atordoada, sentindo os pensamentos darem um nó. Aquele não era o comentário que estava esperando ouvir.
A morena não se conteve; deixou escapar uma gostosa gargalhada e teve que se apoiar no ombro de Kakashi para não perder o equilíbrio. Ele e Keiko trocaram olhares desconfiados: Kakashi se perguntando o que elas estavam tramando e Keiko torcendo para que a amiga parasse com aquela cena. Tinha sido bem difícil fazer Kakashi se sentir à vontade; e Aki estava estragando tudo.
Finalmente, esforçando-se para obter um pouco de fôlego, a morena afastou-se do jovem de cabelos rebeldes e voltou-se para a amiga.
– Você não presta, Keiko... – Segurou a ruiva pelo braço, arrastou-a para longe e sussurrou: – Amiga, se você ficou chateada com o que te fiz passar ontem, devia ter me dito! Não precisava me pregar uma peça dessas! Cheguei a pensar que você estava em perigo!
A ruiva abriu a boca, mas não disse nada. Seus olhos transbordavam medo e confusão. Aki estava aproximando-se perigosamente do assunto proibido, e agora sorria maliciosamente, olhando para Kakashi.
– Eu juro que perdoo a sua brincadeirinha se você me disser onde foi que arrumou um desses tão bonito e tão... convincente. – Emendou, reparando no porte saudável do rapaz.
Aquelas palavras não estavam fazendo nenhum sentindo na cabeça de Keiko. Ela olhou para a amiga, buscando algum sinal que pudesse ajudá-la a entender alguma coisa. Seria um código? Aki ainda mantinha os olhos grudados num Kakashi inexpressivo do outro lado da sala.
– Aki... Seja mais clara, por favor. – Vociferou por entre os dentes. – Estou queimando meus neurônios aqui, pra decifrar seu enigma.
Aki revirou os olhos. Sua colega ruiva realmente não sabia brincar.
– Keiko, eu sei que o que aconteceu ontem não foi legal. – Ela disse, e Keiko sentiu um frio na barriga, com medo que ela deixasse escapar a palavra Miko. – Até assumo que eu merecia mesmo uma lição por ter te levado pra mais uma furada. Você poderia ter escolhido milhares de maneiras para fazer uma piada e me dar um susto, mas confesso que essa sua ideia foi realmente uma pérola! – Ela sorriu e, em seguida, fez uma careta de censura para Keiko. – Sua danadinha... Eu nunca imaginei que você chegaria a esse ponto.
Keiko estava soltando fumaça pelos ouvidos. Do que diabos Aki estava falando?
- Por Kami Sama, Aki-chan! – Explodiu. - Que ponto?
A morena fez um gesto largo, apontando na direção de Kakashi.
- Keiko, pode parar com o fingimento; eu já saquei a brincadeira. Tá na cara que você contratou um cosplay.
Keiko deixou o queixo cair, involuntariamente. Não acreditava no que tinha acabado de ouvir. Seu olhar fulminou a jovem de cabelos curtos, transbordando impaciência.
– Aki, eu não vou brigar com você. – Sibilou. – Não agora...
Aki sorriu maliciosa.
– Entendo... – Disse caminhando até a porta. – Já percebi que estou sobrando aqui. – E deu uma piscadela para Keiko. – Me liga quando estiver livre, ok?
Antes que Keiko pudesse falar alguma coisa, ela fechou a porta. A ruiva já se preparava para ir atrás da amiga, quando ouviu Kakashi perguntar:
– O que é um cosplay?
Ela deixou escapar um suspiro resignado e virou-se pra ele.
– Quer saber? – Disse. – Esquece a Aki e tudo o que ela falou. Estes minutos da nossa vida não fizeram sentido algum, então vamos simplesmente deixar pra lá, ok? – Massageou as têmporas, prevendo uma dor de cabeça, e emendou: – Deus, eu preciso de um sakê...
(Continua...)

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